51. Indefinições...51
Um boi é um bicho tão... inexplicável, escreveu Matilde Campilho. Ainda bem.
Eu também não sei dizer o que é o amor.
– São sonhos despertos, um calor insone –, alguém responde.
Não me convence.
– São milhojas de dulce de leche, con azúcar en polvo, que gruda nos dentes.
Tampoco.
– É um saber absorto, talvez um querer doente.
Quizás.
– É fantasiar voar – ameaçar o voo! – quando se está disposto.
Ou morto?
– De amar, sim, é escapar do silêncio.
Imenso, às vezes.
– É nadar com a corrente (no pescoço?): afogar-se.
Assim, de repente?
– E então cair num poço tão profundo...
Um submundo das ilusões sobreviventes?
– Também, mas, sobretudo, é deixar-se navegar como náufrago e como comandante a um só mar.
Perder-se?
– Melhor. Ganhar a qualidade do ar, material e imaterial, metafísico e carnal, pedra e carnaval, lama e alma, colher e boi, clame como quiser.
Ou seja, não se pode saber...
– Nem eu, nem ninguém.
Que saco, que asco, me canso!
Ainda bem, escreveu Matilde Campilho. O amor é um animal tão mutante, com tantas divisões possíveis.